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sexta-feira, dezembro 08, 2006

 

Querido Diário:

A vida no bairro não tem sido fácil.
Mas acredita que acredito que sempre deve ser mais limpa que a casa daquele animal.
Ai como sinto falta daquele animal!
Mas enfim, a dona Janice tem sido uma querida e o trabalho no supermercado tem corrido muito bem até.
(o que é surpreendente para uma pessoa que sempre foi uma "menina do papá")
Tenho vivido experiências maravilhosas.
A princípio as pessoas estranharam-me um bocadinho, mas passado dois meses já me vêem como uma pessoa de cá
(é verdade, já lá vão quatro meses desde que saí de casa dele... da nossa casa).
Há até um rapaz aqui, o Bartolomeu que parece interessado em mim.
Acho-lhe piada, mas só isso, claro.
No domingo passado convidou-me para ir com ele fumar estupefacientes, vê lá tu Querido Diário, eu a fumar coisas dessas, eu que nunca sequer num cigarro tinha tocado:
as voltas que a vida dá, Querido Diário, as voltas que a vida dá.
A vida dá tantas voltas, não dá querido diário?
Quem diria que eu, a pessoa mais caseira que já conheceste, fugiria da casa dos meus ricos pais ricos, onde tinha tudo:
roupa lavada, toalhas lavadas, comida de todo o tipo e de todo o mundo, um quarto enorme só para mim, três fantásticos pisos, uma deslumbrante sala com todo o tipo de novas tecnologias, grandes televisões, grandes aparelhagens, uma cozinha que tinha tudo, com uma empregada para fazer o resto, telemóveis de ultima geração e dinheiro para estar numa das universidades mais caras do país,
para ir ter com um homem que amava acima de tudo, à sua casa, toda ela castanha, com um quarto minúsculo que não tinha mais espaço se não para uma cama minúscula e um computador rebuscado a um canto, uma casa de banho practicamente inexistente e uma sala que se misturava com uma cozinha que mais não tinham que uma mesinha cheia de tralha, onde ele "trabalhava", uma televisãozita e um frigorifico para guardar as cervejas?
E quem diria que depois desta queda material abismal, me iria encontrar num pequeno barraco no bairro dos "sem nome", que mais não é do que... um barraco.
Mas crê querido diário, crê que tudo isto, por estranho que pareça, me fez crescer imenso e me fez ter noção de mil coisas que nunca pensei possíveis.
E agora, longe de toda esta luxúria, eu, a menina rica do papá, só tenho saudades e só sinto falta de um dos luxos:
Acordar de manhã com aquele animal, a cantar-me aquela musica ao ouvido, que não valendo nada, valia tudo só pela verdade da sua voz .
Sinto a falta dele, Querido Diário, sinto a falta dele.

Sempre tua, e SÓ tua:
Maria



Ps: Tenho que fazer alguma coisa urgentemente, estou desesperada:
Socorro, socorro, socorro!

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