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quarta-feira, janeiro 03, 2007

 

FIM

"Tudo o que tinha para vos dizer o ouviste já"

 

A sabedoria de nada querer saber

Não há
Não há nada para além disto
Não há
Nem sequer um sorriso de Deus nos consolará
Nem um beijo da espôsa velhinha
Na nossa testa
À beira da mesinha de cabeceira da cama

Morreremos assim
Como estamos agora
Sozinhos
Impotentes
Frágeis
Reticentes
Curiosos
E não nos dirá sequer a nossa consciência se tudo isto valeu afinal a pena
Não valeu
Não vale
Nunca valerá

Não me tentem fazer feliz
Não me tentem mudar a alma
Eu não tenho alma
Nem esperãnça para ser feliz
Não me digam verdades
Nem mentiras
Nem nada que não exista
Não me falem de amor seus carentes apaixonados!
A mim nenhum clichê me controlará
Não me convidem para ir convosco vender postais de natal às almas depenadas
sem pena de ninguém
Não me obriguem a dizer o que não ouvem

Estou cansado
Estou agoniado
Estou farto da minha burrice patética que é a vossa
Estou exausto de ouvir as vossas vozes ridículas que são a minha

Não
Não me sentarei no vosso sofá
Confortável
Conveniente
Apaziguado por uma espécie de mentira global em que todos voces concordaram concordar

Não ouvirei os políticos
Os jovens estudantes da cidade
Os velhos reformados das aldeias
As putas badalhocas espalhadas por toda a parte
As mães preocupadas com os filhos
Os filhos revoltados com o mundo

Não sou um revoltado
Eu não sou um revoltado
Só não me chamem conformado
Conformado é que eu não sou

Não me queixarei
Não me revoltarei
Não opinarei
Não nada
calar-me-ei para sempre
guardando assim para mim a sabedoria de simplesmente não querer saber do que toda a gente sabe
e no final de contas
no final de contas
o meu sofá apertado entre os meus dentes
esmagado nas minhas próprias mãos
e aquecido pelo meu corpo sozinho

também não é nada mau.

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