Required field must not be blank

domingo, dezembro 10, 2006

 

O envelope (que não era mais que a vida)

E nesse instante, quando a porta se fechou, o homem que andava nu pela casa, foi a correr até à sala, na esperança de encontrar ainda um resto daquele cheiro que já não cheirava há mais de quatro meses.
Nada.
Nada poderia ser mais forte que aquele cheiro a morte e a nada que se encontrava naquela sala.
Nessa altura, o homem que andava nu pela casa, fechou os olhos durante uns segundos, inspirou a falta de ar existente e sentou-se na mesinha da sala para escrever ou desenhar aquele momento.
A revista já lá não estava, de facto.
Mas o homem que andava nu pela casa, encontrou no seu lugar algo que preenchia o lugar daquela revista antiga sobre a tralha.
Um envelope, com certeza com uma carta ou um bilhete, e só poderia ser de uma pessoa:
Dela.
O homem preparou-se então para abrir o envelope, enquanto imaginava o que estaria escrito dentro dele.
Sentia duas sensações que lutavam entre si nas suas mãos:
  1. A curiosidade que lhe consumia o cérebro
  2. E o medo que lhe esmagava o estômago

Então, levantou-se suportando na mão direita o peso estrondoso desta batalha,

dirigiu-se para o quarto,

tirou os restos de comida da cama,

deitou-se,

levou o envelope à cara,

e ali ficou ele, o homem que andava nu pela casa, até adormecer, vestido pelo que restava do cheiro dos dedos dela,

(já pouco presente)

e o cheiro da saudade dele, entranhado naquele envelope, que ele iria, com certeza, abrir no dia seguinte.

-Até amanha.


Comentários: Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]





<< Página inicial

Arquivos

2006/07   2006/08   2006/09   2006/10   2006/11   2006/12   2007/01   2007/03  

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Subscrever Mensagens [Atom]