Acordei.
Acordei com um escarro na boca.
Cuspi para o chão do quarto.
Fui à janela.
Escarrei para fora da janela.
(acertei na poça que comecei a construir à sensívelmente dois meses)
Fui até à cozinha.
(a parte da sala que é a cozinha)
Tirei uma cerveja do frigorífico.
Bebi a cerveja em três goles.
Cocei os tomates.
Liguei a televisão.
Vi a chuva da televisão.
Li o primeiro jornal que encontrei de baixo da tralha da mesinha da sala.
(já passava dois meses do prazo)
Fui buscar outra cerveja.
(já passava dois meses do prazo)
Bebi a cerveja em dois goles.
Fui cagar.
Caguei e fumei um cigarro.
Li a revista
Maria que já tinha dois meses.
Fui à janela.
Escarrei para a janela.
Cocei os tomates.
Fui buscar uma cerveja.
(bebi-a num gole)
Acendi outro cigarro.
Fiquei sem tabaco.
Mandei o maço de tabaco vazio para o chão.
Escarrei para o chão.
Fui buscar uma cerveja
(já não tinha cervejas)
Bebi um Úisqui puro.
Comi um pão que estava lá à dois meses.
Peguei no telemóvel.
Atirei-o pela janela do quarto.
(Acertei na poça que comecei a construir à sensívelmente dois meses)
Ressaquei por um cigarro.
Acabou-se-me o Úisqui.
Cocei os tomates.
Liguei o computador.
Liguei a internet.
Escarrei para o chão.
Comecei a escrever um texto parvo onde descrevo o meu dia parvo.
Já te foste embora à dois meses.
Já não tenho tabaco.
Já não tenho cerveja.
Já não tenho Úisque
Já não tenho espaço no chão para escarrar.
Já não tenho o que cagar.
Mas juro-te que, enquanto tiver uns tomates para coçar e uma cabeça para pensar, não te vou implorar para voltares e vires buscar a tua revista,
Maria.