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terça-feira, setembro 05, 2006

 

A minha estranha, adorada e odiada mãe biológica e a sua fabulosa casa velha junta a um tentador precipicio

Venho a este sítio com frequência.
Os meus pais adoptivos dizem que foi aqui que ela passou maior parte da sua vida e que foi aqui que ela morreu.
Ela, a minha mãe, viveu e morreu então nesta casa agora abandonada à beira-mar.
Não consigo perceber quais as razões de uma pessoa vir viver para um sítio destes.
Esta é, na minha opinião a casa mais sombria onde eu ja estive
talvez por ser a unica neste sitio
ou talvez por se encontrar tão perto de um vasto precipício.
(terá sido aií que ela morreu?)
Nunca encontraram o seu corpo.
Pelos vistos não se escondia só em vida
ao que parece, permanece escondida depois de morrer.
('... every human being die alone...')
Nunca percebi esta vontade tão persistente de se estar afastado do mundo,
como também nunca percebi as razões para o meu abandono naquela manha à porta da senhora Dora Wilson (a minha mãe adoptiva).
De qualquer maneira, não procuro perceber tais razoes:
nunca ninguem será culpado de alguma coisa num mundo de que não se percebe a existência.
E sei que nunca vou perceber a existência da minha mãe
(nem a minha acho eu).
Teria ela respostas para todas estas perguntas, que sinto que sempre a atormentaram?
Não a posso culpar por se afastar,
a final de contas pode até ter sido uma mártire que ao saber os misteriosos e cruéis designios do mundo, preferiu mante-los afastados da tão positivamente considerada 'civilização'.
Claro que este é o lado positivo.
Não ponho de maneira nenhuma de lado a possibilidade de ela ter sido uma grandessissima prostituta viciada em coca que abandonou o seu filho porque mal tinha dinheiro para sustentar o seu próprio vicío.
Não ponho de lado tal hipótese.
Não posso ousar procurar factos ao ver tantas duvidas.
Ainda afundado nestes estranhamente profundos pensamentos toco a porta
(sei que ninguem vai abrir)
sei que não é preciso que alguem a venha abrir, afinal ela tem estado sempre aqui aberta para mim e a espera que eu entre,
(tal e qual este tentador precipicio.)
O engraçado e curioso é que venho a este sitio com frequencia e nunca tive coragem de entrar
e sei que a porta está sempre aberta para mim.
Será que se entrar nunca mais vou conseguir sair, como aconteceu com ela ?
Não sei se estou pronto para partilhar o destino de alguém.
Este meu esperançoso destino acaba com a minha suposta coragem e a falta de coragem implica medo e o medo implica ignorancia e a ignorancia implica estagnamento e estagnamento implica esta casa,
e é nesta casa cujo quintal e precipicío eu visito tão frequentemente que eu vou agora entrar.
Entrei, entrei!

Passado três anos continuo chocado, como fiquei no mesmo segundo que penetrei nesta casa.
Não me perguntei o que esta cá dentro
(eu nunca contarei).
Nunca contarei e nem eu próprio consigo ver mais,
limito-me a ficar aqui o dia todo a escrever no parapeito da janela e a olhar para este meu-nosso precipicio
( porque há sempre alguma coisa mais bonita e tentadora do lado de lá ).

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